Tenho uma amiga que diz que conhece poucas profissões: médico, advogado, engenheiro… no máximo farmacêutico, vá lá. O resto, ela diz, é tudo designer. Não a culpo. Quase todo mundo hoje em dia é “designer”. E a julgar por esse texto, compartilhadíssimo ontem, eles tendem a continuar se multiplicando.
É super tentador concordar e se render ao romântico ideal de que quem faz Humanas realmente está fadado a ganhar pouco e se divertir muito. Super confortável, portanto, justificar o eventual insucesso profissional pelo fato de que o mundo é assim mesmo e, se tudo acabar em pizza, que seja com borda de catupiry. Exceto que se as coisas fossem tão simples, não haveria as Ciências Humanas pra explicá-las.
Em primeiro lugar, eu sinto muito dizer, mas você cresceu. E não importa o quão simpatizante você seja de qualquer sistema diferente do capitalismo, a não ser que você viva no mato, plantando e pescando, ele é sua realidade. Até para mudá-lo, é preciso admiti-lo. Aliás, se você fez humanas e não sabe disso, você precisa estudar mais. Pois bem, viver num sistema capitalista significa que você precisa vender sua mão de obra, seu trabalho, se quiser ter dinheiro. Mais valias à parte, você também pode ser proprietário dos meios de produção e ter seu próprio negócio.
Repare que este trabalho ou negócio pode ser de qualquer natureza: o que quer que você faça pode ser comercializado. No entanto, existem leis de oferta e demanda influenciando esta coisa chamada mercado (o de trabalho aí incluso) e sua lógica é simples: quanto maior a oferta, menor o preço. O equilíbrio se dá pelo contraponto de que o preço sobe quanto maior for a demanda.
Perdoe meu economês. É básico. Básico o bastante para ser inclusive parte dos currículos obrigatórios de Economia, Administração, Ciências Sociais, Comunicação, Serviço Social e mais um punhado de ciências (vejam só!) humanas aplicadas. Mas se você acha que isso tudo é demais para uma cabeça puramente humana, pare e pense: quantos designers você conhece? Oferta grande, certo? Logo, preço baixo. Só me restringi a essa profissão para manter a nomenclatura da minha amiga, mas preencham a lacuna como melhor lhe aprouver.
“Ah, então ser designer – ou artista plástico, ou ator, ou jornalista, ou tradutor – é uma desgraça e vai ser pobre mesmo?”. Não necessariamente. A CEO da empresa que trabalho é jornalista. Roberto Justus é publicitário. Donald Trump também. Conheço uma pedagoga que é gerente de treinamento e até um executivo de multinacional que, vocês não vão acreditar, é designer!
Mas, e sempre há um mas, já escuto gente bocejando. Qual a graça de ser designer se você vai virar gerente, vai ter que ler planilhas, vai virar o seu pai, não é mesmo? Em suma, que vai ter adiantado fazer Humanas se, no fim, vai ser preciso trabalhar mais e se divertir menos, igual qualquer biológico ou exatóide racionalista? Bom, seja lá qual for a resposta, a certeza é uma só: você vai ter dinheiro.
A verdade é que o Brasil está crescendo, exatamente como você, amiguinho. E assim como você precisou de leite materno pra desenvolver mielina, de danoninho pra ter ossos fortes e de carne pra ficar “fortão”, o Brasil precisa de engenheiro pra construir pontes, estradas, cidades, pra tirar petróleo, pra criar fontes de energia sustentável. Precisa de médicos, a ponto de querer trazer de fora e de qualquer jeito, pra atender gente que morre porque bebe água em regiões onde você não chegaria nem fazendo ecoturismo. Precisa de professores, pra educar a população que vai andar por aquelas estradas e cidades que estão emergindo.
Aliás, professores merecem um parágrafo só deles: mesmo entre os de Humanas, nunca conheci algum que tivesse esse “senso de freelancer”, essa lúdica falta de foco, esse hedonismo profissional que abunda nos designers lato sensu. Professores estão lá, trabalhando muito e ganhando nada, mas estão tão obviamente construindo um país a base de pau a pique (sobra pau e falta pique), que não conheço engenheiro, executivo ou médico que lhes ponha em xeque a utilidade. Até o governo reconhece que lhes paga uma miséria (embora faça muito pouco pra mudá-lo). Raramente um deles escreverá num blog sobre as delícias de ser de Humanas, ganhar pouco e discutir Bukowski com os amigos – embora eles provavelmente entendam mais sobre literatura do que a galerinha problogger.
Mas não percamos o foco, que não quero ser acusado do que critico. Fato é que, se você quer crescer, – e ajuda o crescimento do país, cidade ou comunidade em que vive – trabalhar é preciso. E trabalhar não é divertido, não no sentido “Humano” da palavra. Trabalhar exige disciplina, horário, esforço, resistência. Trabalhar cansa. Significa assumir (e cumprir!) responsabilidades. E, mais do que tudo isso, significa ser necessário para fazer algo funcionar. Perdoe seguir o chorume, mas quão necessário você é para algo?
Perdoe-me a indelicadeza, a indiscrição. Mas ser necessário é bem diferente de ser querido, ser amado. Isso, é claro, todo mundo quer, mas esperar que êxito profissional decorra apenas dos seus talentos inatos é tão inconsequente quanto quem espera diagramar uma revista apenas porque aprendeu a mexer no Corel ou no Indesign. Quem acha que é fotógrafo porque sabe ajustar o foco da câmera semi-profissional. Seu descolamento, seu hypeness, sua beleza e sua inteligência – ou de qualquer pessoa – jamais serão necessários. É o que você decide fazer com eles que pode – ou não – se tornar algo significativo e, por que não dizer, valioso.
Agora, antes que alguém cante a bola do “vendido para o sistema”, gostaria de lembrá-los que Damien Hirsch, Matthew Barney e Marina Abramović, para citar alguns exemplos, estão longe de ser pobretões. Na verdade, se parecem mais com empresários do que com o povo do Baixo Augusta. Eles são gente de humanas que procuraram usar toda sua “humanidade” para fazer algo tão único, tão diferente, que freelancer nenhum seria capaz de entregar. Ah sim, eles são todos grandes expoentes da arte contemporânea também e trabalham pra caramba. Terry Richardson até parece porralouquinha, mas ele administra estúdios, viagens, eventos, redes sociais, é praticamente um projeto de comunicação. Ah, e fotógrafo. Mauricio de Sousa não é um empresário: é quadrinista. Lembra?
Se você acha o mundo corporativo chato e quadrado, cadê sua humanidade toda lá dentro, pra arredondar isso? Por que essa vontade toda de mudar o mundo tem que ficar restrita a atividades sem fins lucrativos? Seu lugar de trabalho ideal não existe? Cadê você criando esse lugar, com essa criatividade toda que Deus lhe deu? Até porque, Zuckerberg não é de humanas mas você adoraria trabalhar no Facebook, hein? Google? Sergey e Larry são exatóides do pior tipo!
Não sei se isso é coisa nossa, também, assim, brasileirinha. Acho engraçado que um país imperial como o Japão seja mais republicano do que a nossa república federativa. A falta de preocupação com o outro sempre leva a achar que dá pra empurrar a vida com a barriga. E se ela for de tanquinho, aguenta até mais peso. Um jeitinho todo brasileiro de encarar o trabalho – ou sua ausência – e levar a vida na ginga, no bole-bole, enrolando o tempo e esticando a festa. Tem gente que tem tanta raiva de trabalho que nem pronuncia a palavra e seus derivados: chama de trampo. Mas paremos antes que me acusem de endireitamento.
Então, desculpem, mas embora eu tenha estudado humanas, inclusive seguindo uns bons passos de carreira acadêmica, eu acho que não sou uma dessas pessoas aí que vocês andam falando. Até porque, não pude me dar ao luxo de ir me encontrar ou me achar nos Estados Unidos no meio da faculdade. Muito menos na Irlanda depois dela. Até fiz minhas viagens, mas com objetivos claros, às vezes profissionais, data de ida e volta e nenhuma, nenhuminha vontade de ficar por lá, porque eu tinha uma pá de coisas pra resolver aqui e escapismo, as humanas me ensinaram, soa meio pastoral, meio parnasiano.
O que eu estudei era muito sério e, embora envolvesse um monte de coisa divertida, envolvia também uma responsabilidade violenta. Até quando era arte, era sério o bastante pra ter prova. Não era papo de boteco. Às vezes, envolvia indicadores, mensurações. Sim, estudei humanas. Meu leite com pera era mais azedinho, acho. E minha amiga já se confunde em me classificar como designer. Se você não me acha “gente de humanas” ou se pareço “coxinha” ou “empresário” com esse palavrório, peço desculpas. Mas não se preocupe, nem se incomode. Para mim, é um prazer ser a prática da tua teoria.
brunnoregis
Jul 16, 2013 @ 18:45:53
você realmente acha que pra viver em um espaço urbano é preciso abraçar o capitalismo dessa forma burocrática?
Dimas
Jul 16, 2013 @ 19:31:15
Eu tenho certeza absoluta disso, Bruno. Mas ó, nem sofro com isso. O dinheiro que você ganha de forma “burocrática” (isso pode ser mais divertido do que parece) pode comprar mais idas ao cinema, mais livros legais, mais viagens interessantes e o que mais você curtir para você fazer/pensar/construir o que gosta. Você também pode se opor a isso tudo enquanto convicção política, o que é legítimo, mas aí não cola ficar reclamando que “ganha pouco”, né?
Sabrina
Ago 23, 2013 @ 12:04:11
O problema, Dimas, é que nesse caso você trata a “gente de humanas” como pessoas que estão apenas atrás de diversão, os hedonistas, como você disse. Houve generalização entre “gente de humanas” e a galera que quer ser hype. Ta rolando uma super valorização dinheiro e do diploma aí (que vai de encontro à desvalorização do saber popular, à formação livre, do auto didata), uma verdadeira briga entre formigas e cigarras (fábula essa, totalmente capitalista, que escutamos desde pequenos). Você reproduz exatamente o mesmo discurso que, particularmente, achei meio arrogante “eu não sou preguiçoso, eu trabalho, eu cresci, vc não, só quer de divertir”.
Existe uma intervenção em Campinas-SP, chamada “A cigarra e a formiga”, que aborda o tema de um ponto de vista interessante. Onde formigas e cigarras convivem de forma harmoniosa pq ambas são necessárias pra se construir uma sociedade equilibrada. Formigas (como vc mesmo disse, sendo necessárias para a construção de um país que está crescendo, “precisa de engenheiro pra construir pontes, estradas, cidades, pra tirar petróleo, pra criar fontes de energia sustentável”, que atualmente criam apenas projetos de luxo cujo objetivo é segregar ainda mais as “classes” e: ganhar dinheiro) e cigarras (que compreendem que artes e cultura são indispensáveis para a formação do ser humano, ou simplesmente pessoas que preferem não fazer parte de um sistema opressor, onde a lógica da vida é nascer-crescer-ganhar dinheiro-reproduzir-morrer. Mas, esses parenteses são o MEU ponto de vista, não o da intervenção.), convivendo, se respeitando e reconhecendo a importância uma da outra. No seu texto, dá a impressão de que “gente de humanas” é desnecessária, e que de uma forma ou de outra, têm que se render à lógica, com a qual grande maioria não concorda. Por isso mesmo, várias gentes de humanas tem se reunido para debater a importância da sabedoria popular (já ouviu falar da Lei Griô?), movimentos debatendo a vida daqui há alguns anos (já que retirar petróleo é tão importante, como faremos quando ele acabar? pq viver de forma tão imediatista, resumindo tudo a ganhar dinheiro e comprar um carro?), existe gente de humanas vivendo baseado na Economia Solidária (e, olha só, funciona!). Não sei aonde você encontra essa gente de humanas que não trabalha. A gente que eu conheço trabalha, muito, e ganha pouco. Enfim, reduzir tudo a um debate capitalista x socialista, é meio old. Meio oito ou oitenta… Me senti contemplada com o texto da Camila também, senti como um desabafo, de alguém que ESCOLHEU viver de frila, escolheu não se render ao “sonho” de ser contratado em regime CLT e garantir sua aposentadoria, e que não vê nisso o objetivo da sua vida. Toda história tem dois lados, e não existe apenas um modelo de vida válido, tampouco dois. Sai do óbvio, pensa fora da caixa, por favor.
Dimas
Ago 27, 2013 @ 17:01:55
Eu concordo, Sabrina. Mas aí, são duas coisas diferentes. Sendo que existem empregos para pessoas de humanas que são “sistematizados” e que pagam bem, em oposição aos que “não são sistematizados” e pagam mal, o fato de você fazer uma escolha consciente por um dos dois te “impede” de reclamar do outro, sob pena de parecer uma criança mimada. Não se pode ter tudo na vida, né?
Eric Andriolo
Jul 16, 2013 @ 18:50:28
Sem ofensa, mas acho que voc~e não entendeu nada do “Gente de Humanas…” que você tanto critica. Ninguém nunca falou que é super legal não ganhar dinheiro.
Acho que você está subestimando pessoas que gostam do próprio trabalho e vêem isso como um caminho para realização pessoal e profissional.
Digo mais, sua indignação com as pessoas que amam o que fazem antes de amarem a remuneração é perigosa. Explico:
O mundo já está cheio de gente que, de pensar assim, resolve fazer aquele trabalho horrível, que odeia, porque paga mais agora, ao invés de um menos remunerado que coloca a pessoa em um rumo mais direcionado de carreira, ou que dá um tipo de experiência melhor para o futuro.
O mundo não, meu curso, mesmo – sim, de humanas – está cheio de gente que, assustado com a perspectiva de não ganhar o bastante para sustentar, sozinho, uma família, resolve mudar de curso, ou procurar o nicho mais lucrativo da carreira, e que oferece maior estabilidade, mas menor chance de ascensão e realização.
A verdade é que sim, humanas remunera pouco. Somos desvalorizados, que dirão os repórteres – os mais mal pagos de qualquer jornal, mesmo que sejam os que tocam o negócio – e os designers – tratados como crianças por empregadores que não gostam de pagar por arte.
Mas não é de lei que quem faz humanas ganhará pouco sempre, nem o é que quem faz o que ama primeiro e o que remunera segundo é infantil, ou não tem perspectiva de vida.
Por sorte, minha família sempre me ensinou isso. Tenho um pai engenheiro que trabalha em alto cargo com ótima remuneração, mas ele sempre deixou claro que ama seu trabalho e que trabalha muito para manter isso. E tenho uma mãe que largou uma carreira em computação para abraçar medicina alternativa. A lição foi clara: faça o que te apaixona, que te motiva a ser melhor, a ser cada dia mais eficiente. Faça aquilo que você adora acordar cedo e ir dormir de madrugada para fazer. Foque sua carreira no que você quer exercer e dinheiro, sucesso, essas coisas, são consequência do seu esforço.
Agora tenho que ser duro: infantil é sua crítica. É birra. É medo. É preconceito. Ninguém de humanas gosta do trabalho porque quer viver fora do ‘capitalismo’ (oh), nem porque quer ‘ser amado’.
E mais, algumas pessoas gostam de trabalhar em corporações, outras não. Isso vale em todas as carreiras, até medicina e engenharia.
O freelancer, o trabalhador informal, ou como queira chamar, é muitas vezes uma escolha consciente por identificação. Das outras vezes é impossibilidade de achar emprego fixo ou é um primeiro “emprego”, para construir experiência antes de conseguir um contrato melhor, muitas vezes no mundo corporativo.
Cá estou eu, estudante de humanas, sendo repórter em uma empresa, em uma redação, em um escritório. Se amanhã eu ficar desempregado, não vou correr atrás de assessoria só porque pagam melhor. Não é pelo capitalismo, nem por infantilidade. É plano de carreira, é que sei o que quero fazer da minha vida.
Vou atrás de um frila, um curso, um trabalho que me dê mais experiência, mesmo que não pague muito, mesmo que eu tenha que complementar a renda por fora pra dar uma mãozinha no aluguel.
Está na hora de largar seus preconceitos, meu caro. E pensar se não são suas as questões de que você tanto trata de forma tão enérgica, debochada e infantil. Porque certamente não são minhas e certamente não são de muitos de meus conhecidos e amigos – estudantes e profissionais dos 18 aos 50 anos na área de humanas que tocam suas vidas sem ganhar o que ganha um “Donald Trump”.
Se esse não é seu plano, boa sorte. Mas é o meu, é o de muitas pessoas adultas e conscientes. Entenda, tolere, e engula seu reacionismo. Não nos ofenda com sua ignorância.
Bela
Jul 16, 2013 @ 20:04:11
Muito bom eric! O texto desse cara tem cheiro de mofo.
thaiscons
Jul 16, 2013 @ 21:14:58
Eric, concordo com a questão que você coloca de que sim, é preciso amar o que a gente faz, e sim, “ninguém de humanas gosta do trabalho porque quer viver fora do ‘capitalismo’”. Mas uma pegada ótima do texto do Dimas que talvez você não tenha considerado seja a questão da desvalorização dos profissionais. Eu sei disso porque sou professora, e pessoalmente aquele texto de “gente de humanas que faz um monte de coisa que não dá dinheiro” reforça um preconceito que eu, pelo menos, sofro sempre. O preconceito de que pessoal de humanas não ganha mesmo e “se vira” assim. “Ah, você é professora, faz isso porque ama. Tem o dom pra professora? Coitada, porque não foi o dom pra medicina? Mas ah, vai, você já sabia que ia se ferrar e não ia ganhar nada desde o começo.” Como se o que a gente fizesse não fosse válido ou não merecesse reconhecimento e remuneração. Claro que amar o que faz é fundamental, mas esse preconceito de !ganha pouco e beleza” é uma das coisas que estigmatiza e desvaloriza muito nossa posição como profissionais dessas áreas.
Luciana Parelho
Jul 16, 2013 @ 19:04:41
Muito bom! Sou das artes e humanas e hora ou outra me pego sendo “meio séria, até capitalista”. rsrs
diego
Jul 16, 2013 @ 19:23:04
Deus me livre me tornar um chato de galochas como o senhor.
Edvard
Jul 16, 2013 @ 19:33:33
Muito bem escrito. Você conseguiu expressar (e complementar e muito) algo que eu sentia e não sabia explicar.
Dimas
Jul 16, 2013 @ 19:53:23
Obrigado, Edvard. Acho..rs
Camila
Jul 16, 2013 @ 20:40:56
Ótimo texto, como td q vc faz!
Dimas
Jul 16, 2013 @ 21:42:53
Brigadoo ^^
Sofia
Jul 16, 2013 @ 20:45:45
Eita. Levei o tumblr em questão (porque só conheçi o tumblr) como uma brincadeira e nada mais. Trabalho é trabalho, concordei com muitas partes aí. But, pesadinho.
Ivan Stamato
Jul 16, 2013 @ 21:08:51
Você transa cara?
Dimas
Jul 16, 2013 @ 21:37:48
Beaucoup!
Bela
Jul 16, 2013 @ 22:23:50
Li, reli, custei a entender. Acho que esse cara colocou tudo em um balde e fez uma sopa no mínimo duvidosa. Não concordo também com o texto “Gente de humanas que faz um monte de coisa que não dá dinheiro”, cliquei nesse link cheia de empolgação, mas não entendi as fontes do jornalista, e fiquei ofendidinha pq meu leite com pêra é doce (sorry). Acho que antes de colocar os designers na cruz ele devia procurar saber um pouco mais sobre design thinking, e ler um pouco sobre gerações, inovação, etc..
Dimas
Jul 17, 2013 @ 11:02:33
Já que estudou tanto design thinking, seria legal fazer um exercício: coloque num quadro duas colunas. Uma do texto da Camila. Outra do Texto do Dimas. Coloque em Post Its as principais ideias de cada um. Sugestão: Post its amarelos para as ideias “centrais”, vermelhos para as argumentativas e verdes para os principais termos/figuras de linguagem. Se o exercício mostrar que os textos se organizam como opostos, é porque o meu é uma resposta ao primeiro e o uso da palavra designer (como os post its verdes deverão mostrar) por mim é irônico e assume uma conotação outra do que aquela original. #fikdik
Gabriel
Jul 16, 2013 @ 22:43:21
Ei Dimas. Acho que entendi alguns pontos do que você postou aqui, o texto que fala das pessoas “de humanas” é bastante fora de realidade, um bocado flutuante e não condiz com a realidade dessa área do conhecimento. Ate aí concordo com você. Quem é de humanas trabalha igual qualquer um.
Mas senti uma tendência extremista, no polo oposto ao texto que você responde no seu desenvolvimento. Dizer que trabalho não é divertido é demais. (Nesse ponto não sei se o adendo do “sentido humano” que você faz altera o sentido que eu entendei). Você estudou redes, então deve ter lido essa porção de gente que aponta novas tendências de comportamento e mercado que mapeiam novas formas de organização do trabalho. Até em contextos mais práticos, mercado falando de mercado, a BOX 1824 tem uns materiais super bacanas sobre essa novo tipo de tendência. Um exemplo bacana é o all work and all play (http://vimeo.com/44130258), que imagino que você já deva conhecer. Lógico que isso é um caminho incipiente, as mega corporações do terno e gravata ainda estão aí, mas existem pessoas apontando para uma decadência desse modelo de trabalho ( Gente como o John Thackara por exemplo. Cheguei a ver o cara falar pessoalmente sobre que ele escreveu no In the Bubble, designing a complex world).
No fim das contas dá pra concluir que a gente tá entrando em uma época onde a conformação dos modelos de trabalho e de negócio estão mudando. No meu entendimento a tendência é nem tão 8 (felicidade freela hippie do primeiro texto) e nem tão 80 (dura realidade que devemos nos conformar do seu texto).
E exemplos disso têm pipocado em todo lugar. No meio do design mesmo, que você citou, dá pra levantar só da memoria aqui a famosíssima IDEO (formada por designers, gente da humanas). Eles inclusive conseguem viabilizar a IDEO.org, inteiramente sem fins lucrativos. Tudo em ambientes criativos, estimulantes e por aí vai. Mas não é só lá não. Aqui no brasil, o projeto do Imagina na Copa tá crescendo bastante e conseguindo abrangências interessantíssimas. Ainda em São Paulo, o pessoal da Design Echos parece estar construindo esse mesmo tipo de atmosfera. No sul, Catarse, Nós.vc, todos vinculados ao Estaleiro liberdade. E aqui em BH (onde moro) tem gente que nem a DesignThinkers Brasil, o CoolHow creative lab e várias outras nascentes.
Ufa! Listagem enorme, mas esses são lugares que consegui mapear em uns dois anos que venho investigando design e inovação. Gente que está começando a querer buscar um mindset diferente desse corporativo CLT opressor (que cá entre nós, é um horror, né?). Volto na tecla do: sim, é um movimento que está despontando faz pouco tempo. É pequeno, mas está começando a ganhar visibilidade.
Tudo isso pra falar que não é só freela tilelê versus corporativo engravatado. E a formação, eu acredito, ultrapassa um pouco as caixinhas das humanas, exatas e biológicas, se você for olhar as infinitas especificidades dentro de cada uma e as interseções entre elas.
E lógico, trabalho nunca vai ser divertido o tempo todo, mas pode sim dar prazer e ser realizador. E afinal de contas, tudo na vida é nessa mesma dualidade: até namoro é ótimo mas dá dor de cabeça.
Eu fico no meio do caminho, meio budista assim.
Dimas
Jul 17, 2013 @ 10:49:54
Super concordo contigo, Gabriel. Na verdade, nós dois pensamos a mesma coisa. Tive muito contato com teorias do lúdico quando pesquisei video games e pode ter certeza que sou super partidário delas. A ponto de ter citado o Facebook e o Google no texto, exemplos de empresas que já trazem o elemento da diversão pro ambiente de trabalho. E bah, eu me divirto MUITO trabalhando. Ainda essa semana estava twitando sobre como estava achando o máximo ter usado Little Mix num filme que fiz aqui pra empresa.
No entanto, meu texto é literalmente uma resposta para aquele linkado. E cara, quando você faz um contraponto, se ele não for absoluto, corre o risco de escorrer na concordância. Até porque, aquela “gente de humanas” do outro texto não parece disposta a trabalhar at all. Mesmo que envolva muita diversão, se responsabilidade vier junto, parece haver um problema. No entanto, são os primeiros a reclamarem que ganham pouco. E criticar quem ganha muito como “chatos burocratas”. E foi essa pedra que caiu no meu sapato.
Obrigado pelo comentário!:)
Leandro
Jul 16, 2013 @ 23:01:04
Dimas, compreendi o que você quis dizer com seu texto, que em breve síntese, significa que o trabalho consciente é conseqüência lógica da boa remuneração em qualquer área? Se assim o for, até concordo em partes.
No entanto, vislumbro no texto da Camila uma abordagem que contempla algo mais que apenas o binômio trabalho/remuneração. Tocou em um ponto que relaciona-se com toda essa inquietação das ruas: o brasileiro que chegou à faculdade nas eras FHC/LULA, começa a perceber o logro do diploma, ao se deparar com o mercado de trabalho saturado. Não existe bilhete para o Éden…Não estou viajando quando digo isso. Vou explicar.
Não gosto de casuísmo, mas para derrubar sua tese, preciso falar um pouco de mim. Sou da área de humanas. Direito. Graduado pela UFMG, estudei muito, estudo muito, trabalho mais ainda. Tenho nove prefeituras por clientes. Rotina de viagens que exige muita disciplina. Saio de casa segunda de manhã, quase sempre, sábado de manhã. Nove prefeituras são minhas clientes. Sempre tive vida dura em casa. “Não tinha outra saída a não ser forte, porque todo seu mundo era precário.”(Cartas a Dorine) Eis meu totem.
Eis um típico representante dos workaholics…Gosto do que faço? Sim! Me sinto vivo. Gosto de resolver problemas dos outros, de me ser colocada uma questão de alta complexidade jurídica e ter recursos técnicos para contorná-la. Atuo no que sempre planejei. Me acostumei a estudar em hotéis (leve sua própria luminária), sair com pessoas diferentes toda semana. Dormir cedo, acordar cedo, correr.
Porém… sou da área de humanas!
Este “porém” foi o que a camila achou no texto dela.
A questão não se esgota no binômio trabalho/remuneração. Mas já que você destacou por esse prisma, vamos a ele.
O que só uma pessoa de humanas compreende, sente, se condói, é ver um profissional altamente qualificado em sua área viver de forma precária, estigmatizado em suas relações com o mundo do trabalho justamente por sua remuneração ser parca. Como se a deficiência de sua renda fosse um defeito congênito de sua pessoa e estilo de vida, e não de condições de trabalho e remuneração aviltantes.
Qualquer gerente de banco sabe que o médico recém formado, do interior, ganha mais que o professor titular de ciência política.
A solução seria todo mundo, de repente, cursar medicina? Claro que não!
O paroxismo da comparação apenas busca reforçar que diante do atual contexto econômico e social, um excelente profissional de humanas consegue atingir, salvo “Donald Trump”, o nível de um profissional comum (para medíocre) da área exatas ou biológica. Um idiot savant recém formado pode vir a ganhar mais que um doutor em letras, a depender da área que escolha.
Penso que esse é o desabafo do texto de Camila, que mesmo escolhendo um ramo no qual a remuneração não acompanha o nível de qualificação do profissional, ela ainda é “das humanas”, com tudo de bom e ruim que seu estereótipo carrega.
Eu também sou das humanas! Apesar de viver no set real do “Diabo Veste Prada”, seguindo scripts de capacitação, roteiros de atendimento, comprando uma agenda por mês, e amando o que faço, sei que meu soldo ao final do mês não reflete meu esforço e capacitação como se daria em outras áreas. Sou das humanas… mesmo tendo uma vida pragmática, acredito mais nas razões de Fernando Pessoa, T. Lautrec, e, que o paraíso, será como o Moulin de la Galette, de Renoir.
ABS, Dimas!
Dimas
Jul 17, 2013 @ 10:58:30
Oi Leandro! Obrigado pelo comentário. Oras, então temos uma coincidência: sou de Humanas também! Tá tudo em casa. E estamos falando basicamente a mesma coisa (como falo no último parágrafo). Quem faz o binômio é a própria Camila, que se acha mal remunerada apenas “por ser de humanas”, mas talvez o seja por outros motivos. Acredito que seja de Humanas, de Biológicas, de Exatas, de Marte ou de Vênus, sempre haverá espaço (e necessidade!) para quem se esforça ao máximo para dar o seu melhor a uma empresa, ao país e à sociedade. Ninguém é “coitado” por ser de humanas. Ser de humanas não é desculpa pra ser “maneiro”. Ser de humanas é ser um profissional como qualquer outro e vai exigir dedicação, trabalho, disciplina se, e somente se, o que você busca é o sucesso – em todas as suas facetas. O que está longe de querer dizer que não possa ser legal, próspero e interessante. A oposição entre o sério e o divertido não me pertence. Huinzinga já diz que o jogo só é jogo se tiver regras.
Abraço!
Bárbara
Jul 17, 2013 @ 05:35:50
Sempre tem o mala da exceção. “Ah, mas conheço meia dúzia de gente de humanas que virou executivo e trabalha em multinacional”. E daí? Quantos quadrinistas ótimos existem e quantos viram Mauricio de Souza? Quantos escritores, cantores, etc, que são ótimos mas nunca vão ficar famosos e ricos? Isso significa que não são tão bem sucedidos ou capazes? Ser bem-sucedido pra você é trabalhar numa multinacional e ficar rico? E se a pessoa não gostar do ambiente corporativo e preferir fazer trabalhos sociais?
Dimas
Jul 17, 2013 @ 10:52:39
A pessoa tem pleno direito de fazer isso, Bárbara. É um trabalho tão louvável e digno como qualquer outro. Mas fazer isso e reclamar que ganha pouco, sem inovar e sem oferecer algo que o mercado ou a sociedade precisem, é um pouco incoerente, né?
Aninha
Jul 23, 2013 @ 02:38:25
Eu acho muito engraçado (pra não dizer constrangedor) esse papo de capitalista X socialista, abraçar o sistema X resistir ao sistema em pleno 2013… É incrível que isso ainda apareça em qualquer argumentação. E que papo é esse de “trabalhar exige disciplina, esforço, horário…” Quem não sabe disso? “A gente de humanas”? Publicitários, designer, tradutores etc não têm prazos a cumprir? Sei lá, Dimas, não achei teu texto propriamente ruim .Em termos de redação, aliás, está impecável, ainda que empregue uma linguagem às vezes, na minha humilde opinião, inadequada – chamar o leitor de “amiguinho”, poxa, a mim parece uma tentativa de diminuir o leitor, menosprezar sua inteligência ou experiência, e, pô, a pessoa chegou até o teu blog e está dedicando seu tempo a ler teu texto, acho que tem que ter consideração, né? Mas acho que o melhor adjetivo para o texto é “estranho” ou então “anacrônico”. Acho que não entendeste o texto da Camila (um inocente deboche de si mesma e de seus pares, nada a ver com apologia da preguiça e da pobreza, condenação da riqueza ou mesmo mimimi). Ou vai ver eu é que não entendi o teu. É uma hipótese…
Dimas
Jul 23, 2013 @ 15:05:33
Eu não contrapus capitalismo e socialismo, Aninha. Esta relação está na cabeça de quem pressupõe que existe oposição entre trabalho e diversão. Por isso a ironia do texto. E por isso a resposta à Camila que, a meu ver, faz parecer que é impossível equacionar o que se gosta com o que dá dinheiro, como se, em sendo de humanas, fosse nossa obrigação se contentar em ser feliz com uns “freela aí”. Não é. Se você tem a consciência de que, sendo designer, publicitário, jornalista e etc. você não está exímio de responsabilidades e prazos, ÓTIMO. É justamente este o primeiro passo, na minha opinião, pra uma profissão de humanas ser encarada (e remunerada) como qualquer outra. O problema é que a “gente de humanas” (entre aspas porque é citação) não está nem aí com isso e, ao mesmo tempo, reclama da desvalorização de sua tão divertida e querida profissão. Ao mesmo tempo em que fazem engenheiros, médicos e advogados, por exemplo (ah, esses burocratas!) parecerem uns azedos de vida chata, que só fazem o que fazem por dinheiro…
Dimas
Jul 23, 2013 @ 16:43:06
A “gente de humanas” a que me refiro é a do texto da Camila..rs E só. Em tempo, eu sou de humanas.
Aninha
Jul 23, 2013 @ 16:37:50
Oi, Dimas! Sim, podes não ter contraposto de modo explícito, mas este trecho me incomodou um pouquinho (rsrsrs) “E não importa o quão simpatizante você seja de qualquer sistema diferente do capitalismo, a não ser que você viva no mato, plantando e pescando, ele é sua realidade.” Todos sabemos que é esta a nossa realidade e todos queremos ganhar dinheiro (claro, alguns mais outros menos, e desde que se ganhe dinheiro de modo honesto, não vejo problema nenhum). Não concordo com o que escreveste nesta resposta “o que problema é que a gente de humanas não está nem aí com isso [responsabilidades]” Talvez a gente de humanas que tu conheces seja diferente da gente de humanas que eu conheço, Eu nunca tinha associado o pessoal de humanas a irresponsabilidade, descompromisso e desdém a dinheiro. E também não acho que a Camila quis dizer que é obrigação de gente humanas se contentar em ser feliz com uns freela aí, nem que a vida dos engenheiros, médicos e advogados é chata. O que eu acho que ela disse sim é que pessoas com inclinações para humanas que decidem fazer coisas de outras áreas só pelo dinheiro têm vidas entediantes, mas porque fazem o que não gostam. Não quer dizer que ela pense que os engenheiros, advogados e médicos de vocação sejam azedos etc. Enfim, eu acho que o texto dela foi muuuuito mal interpretado. Só isso! No mais, concordo contigo: trabalho envolve responsabilidade e dinheiro é bom e eu gosto! 🙂
Claudio
Out 27, 2014 @ 13:51:40
Eric fechou o tópico do reaça. Fim.